O texto é uma conferência inaugural que discute o declínio da teologia cristã nas universidades modernas ocidentais. Em “Theological Theology”, cuja tradução livre é “Teologia Teológica”, John Webster aborda a problemática da marginalização da teologia cristã nas universidades modernas ocidentais, explorando as razões históricas e as tensões intelectuais que levaram a essa situação. O autor argumenta que a teologia, ao tentar se adequar aos modelos de investigação acadêmica predominantes, acabou se alienando de seus próprios fundamentos e propósitos.
Com efeito, a conferência propõe uma reconceitualização da teologia, enfatizando a importância da doutrina cristã e a necessidade de um método teológico distinto. O autor defende que uma teologia mais teológica (Theological Theology), ancorada na fé e na prática cristã, pode oferecer uma crítica importante à cultura acadêmica dominante, sugerindo um modelo de universidade mais pluralista e envolvido em debates substantivos sobre diferentes visões de mundo. Finalmente, John Webster apresenta a necessidade de recuperar a relação entre a teologia acadêmica e a comunidade eclesial.
O Problema Central
O principal problema abordado no texto é a incompatibilidade entre a natureza da teologia cristã e a cultura intelectual das universidades modernas. John Webster aponta que:
- As universidades valorizam uma antropologia de investigação que prioriza a racionalidade procedimental, a independência de contexto e convicção, e a representação e julgamento. Essa abordagem é vista como um desdobramento do ideal moderno de liberdade da determinação da situação, que se manifesta na ideia de que o aprendizado é um empreendimento humano genérico, no qual convicções particulares são deixadas de fora.
- Essa antropologia leva a uma valorização da Wissenschaft (ciência) em detrimento da Bildung (formação). Enquanto a Bildung busca a transformação do indivíduo, cultivando hábitos mentais e espirituais específicos, a Wissenschaft se concentra em práticas intelectuais que transcendem localidades e contextos, buscando a objetividade e a universalidade.
- A relação com os textos também é alterada. Na Bildung, a leitura e a reiteração dos textos canônicos são centrais, enquanto na Wissenschaft, a ênfase é na investigação e na busca por conhecimento original, com uma atitude de questionamento em relação à autoridade.
- A teologia, ao internalizar esses modelos de investigação, passa a argumentar a favor de sua própria possibilidade sem apelar ao conteúdo cristão específico, distanciando-se de sua própria essência. Isso se manifesta na epistemologização da doutrina da revelação e na mudança do estatuto da ressurreição de Jesus, que passa de objeto de crença a fundamento apologético da fé.
- Essa mudança resulta em uma padronização dos gêneros da escrita teológica, que são assimilados aos do discurso racional padrão, afastando-se dos modos de comentário, paráfrase e reiteração dos textos canônicos. Isso dificulta que os profissionais da teologia identifiquem o que é especificamente teológico em suas pesquisas.
As Causas do Problema
John Webster destaca duas causas principais para esse problema:
- A história da universidade moderna que marginalizou convicções morais e religiosas, desencorajando a investigação teológica.
- A internalização por parte da teologia dos modelos de investigação da universidade, levando a uma crescente alienação da fé cristã.
O texto também menciona que a teologia, ao tentar se defender perante a filosofia, negligenciou conceitos cristológicos e trinitários, o que a tornou vulnerável às críticas filosóficas.
Soluções Propostas por John Webster
O autor propõe uma reconfiguração da teologia e sua relação com a universidade, enfatizando que a teologia deve se tornar “mais teológica” para ser relevante. Suas sugestões incluem:
- Reafirmar a prioridade do objeto da teologia, que é Deus, e reconhecer que a realidade divina constitui e delimita o campo da atividade teológica.
- Reconhecer que o princípio do conhecimento teológico é a Palavra de Deus, que se manifesta na presença de Deus em Jesus Cristo pelo Espírito Santo.
- A teologia deve ser vista como um modo de vida intelectual “contrário” àquele praticado pela universidade, questionando a antropologia de investigação dominante.
- A teologia pode contribuir para a universidade ao criticar a ideologia instrumentalista e representacional, e ao revelar como a universidade pode obscurecer sua própria natureza.
- É preciso re-regionalizar a vida intelectual, reconhecendo que a razão é praticada dentro de tradições específicas, e não através de normas abstratas.
- A universidade deve ser um local de conversa entre visões de mundo diferentes, em que as diferentes lógicas sejam maximizadas e os conflitos sejam produtivos.
- A teologia precisa restabelecer sua relação com a fé e a prática cristãs, pois é dentro dessa cultura que a linguagem e os conceitos cristãos ganham significado.
- O teólogo deve dominar as regras da vida da tradição cristã, através da oração e da atenção aos textos, em vez de apenas apresentar um saber abstrato.
- A integração entre a academia e a comunidade eclesial é vista como algo positivo, que pode ressaltar que não há um espaço público não-local ou uma racionalidade abstrata.
Conclusão
Ante o exposto, John Webster defende que a teologia não deve buscar sua legitimidade na universidade através da conformidade, mas sim reafirmando seus próprios fundamentos e métodos, e se engajando em um diálogo crítico com as outras disciplinas. A teologia, ao se manter fiel a si mesma, pode contribuir para uma universidade mais plural e reflexiva, que valorize a diversidade de visões de mundo e a importância do conflito produtivo. O texto conclui com uma visão utópica da universidade, que busca encorajar uma distância crítica em relação às concepções predominantes e a uma autocrítica séria.