Aonde está a Arca da Aliança?

Por que a Arca da Aliança nunca foi encontrada?

Não é de hoje que muitas pessoas resistem à ideia de que Deus, de fato, permitiu que o rei da Babilônia, Nabucodonosor, destruísse o objeto mais sagrado para o povo de Israel. Não é incomum vermos como existem diversas teorias que tentam explicar: “aonde está a Arca da Aliança”.

O profeta Jeremias assim escreve (Jeremias 3.16-18):

16 E, quando vocês se multiplicarem e se tornarem fecundos na terra, então, diz o SENHOR, nunca mais se exclamará: “A arca da aliança do SENHOR!” Ela não lhes virá à mente, não se lembrarão dela nem dela sentirão falta; e não se fará outra. 17Naquele tempo, chamarão Jerusalém de “Trono do SENHOR”. Nela se reunirão todas as nações em nome do SENHOR e já não andarão segundo a dureza do seu coração maligno. 18Naqueles dias, a casa de Judá andará com a casa de Israel, e elas virão juntas da terra do Norte para a terra que dei em herança aos pais de vocês.[1]João Ferreira de Almeida, trad., Nova Almeida Atualizada, Edição Revista e Atualizada®, 3a edição (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017), Jr 3.16–18.

John L. Mackay, ao comentar o livro de Jeremias, assim escreveu:

Porém uma grande mudança espiritual também é indicada: Nunca mais se exclamará: “A arca da aliança do SENHOR!” “Nunca mais se exclamará” (“nunca mais se dirá”, ARC) é usado por Jeremias em outros contextos (23.7; 31.29; cf. 31.23) para indicar que uma fase de revelação anterior deu lugar a uma nova, mas sem invalidar a antiga (Woudstra 1965:38). A implicação é que uma expressão como esta era usada em Jerusalém para expressar admiração e gratidão pela provisão do Senhor. A arca foi construída no tempo de Moisés de acordo com as exatas prescrições divinas e colocada no Santo dos Santos, no tabernáculo (Êx 25.10–22). Ela era chamada de arca da aliança ou arca do testemunho porque continha as duas tábuas de pedra que continham as exigências pactuais do Senhor (Êx 25.16; Dt 10.1–5; 1Rs 8.9). A arca continuou a desempenhar um papel importante na adoração no Templo, sendo o trono do Senhor, o lugar da presença, em poder, do rei do povo da aliança, e também o centro do sistema sacrificial de Israel, sendo aspergida com sangue no Dia da Expiação. A história posterior da arca é obscura. Apesar da profanação do Templo no reinado de Manassés, ela ainda existia nos dias de Josias, como indica a referência em 2Crônicas 35.3, mas não há registro dela depois disso. Parece que ela desapareceu durante o saque babilônico à cidade em 586 a.C. Contudo, ela não é relacionada entre os despojos que foram tirados da cidade (52.17–23) e, por isso, pode ter sido escondida e nunca descoberta. [2]John L. Mackay, Jeremias, trad. Vagner Barbosa, 1a edição, vol. 1, Comentários do Antigo Testamento (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2018), 226–227.

Assim, aqueles que acreditam que a Arca da Aliança sobreviveu à invasão de Jerusalém por Nabucodonosor, se baseiam na ausência de qualquer referência explícita à arca dentre os utensílios de ouro levados (2 Crônicas 36.5-8):

5 Jeoaquim tinha vinte e cinco anos de idade quando começou a reinar e reinou onze anos em Jerusalém. Fez o que era mau aos olhos do SENHOR, seu Deus. 6Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio contra ele, amarrou-o com correntes de bronze, para levá-lo para a Babilônia. 7Nabucodonosor levou também alguns dos utensílios da Casa do SENHOR para a Babilônia, onde os colocou no seu templo. 8Quanto aos demais atos de Jeoaquim, às abominações que cometeu e ao mais que se achou nele, está tudo escrito no Livro da História dos Reis de Israel e de Judá. E Joaquim, seu filho, reinou em seu lugar. [3]ibidem, 2Cr 36.5–8.

De igual modo, não consta na lista dos itens levados de volta para Judá após o término do exílio babilônico, conforme podemos ler em Esdras 1.5-11. Entretanto, ao lermos a passagem que relata a invasão de Nabucodonosor em Jerusalém, o escritor bíblico assim escreveu (2 Reis 24.12–13):

12 Então Joaquim, rei de Judá, acompanhado de sua mãe, seus servos, seus príncipes e seus oficiais, se entregou ao rei da Babilônia; e o rei da Babilônia, no oitavo ano do seu reinado, o levou cativo. 13Levou dali todos os tesouros da Casa do SENHOR e os tesouros do palácio real. E, conforme o SENHOR tinha dito, cortou em pedaços todos os utensílios de ouro que Salomão, rei de Israel, tinha feito para o templo do SENHOR. [4]op. cit., 2Rs 24.12–13

Alguns entendem que Ezequias, rei de Judá, deu todo o ouro que tinha na Casa do Senhor, como forma de pagamento a Senaqueribe, rei da Assíria (2 Reis 18.14b–16):

…Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, um tributo de dez toneladas de prata e uma tonelada de ouro. 15 Ezequias deu toda a prata que havia na Casa do SENHOR e nos tesouros do palácio real. 16Foi quando Ezequias arrancou o ouro que havia nas portas do templo do SENHOR e nas ombreiras, o ouro com que ele, o rei de Judá, as havia revestido, e o deu ao rei da Assíria. [5]op. cit. 2Rs 18.14b–16.

Vemos também que o assunto é tratado em textos antigos, os chamados deuterocanônicos ou também conhecidos como apócrifos. Muito embora não façam parte do cânon sagrado, os livros apócrifos são documentos antigos que contém elementos históricos e literatura de sabedoria. Segundo Maccabeus 2.5, Jeremias escondendo a arca numa caverna antes da invasão de Nabucodonosor. Segundo Baruque 6.1-9, a arca foi sobrenaturalmente engolida pela terra antes da invasão de Jerusalém, ficando escondida ali até a hora da restauração de Israel.

O que a Bíblia diz?

Bem, em todo o caso, vemos que a Sagrada Escritura dá todo o entendimento necessário para compreendermos um novo momento estabelecido por Deus, que dispensa a presença física da Arca da Aliança. Segundo as palavras do profeta Jeremias (Jr 3.16), “não se fará outra” (ao se referir à Arca da Aliança); esta expressão dá a ideia de que a arca seria destruída no ataque. [6]Confira este importante texto escrito pelo Dr. Michael S. Heiser – https://blog.logos.com/ark-covenant-will-never-found/ Com efeito, o profeta alerta que não é necessário se preocupar com isso, pois as pessoas sequer terão necessidade de lembrar dela, nem sentirão falta dela; também não será feita outra arca.

O próprio profeta Jeremias diz que virá um novo momento; Jerusalém será chamada de “Trono do Senhor”. A arca, que simbolizava a presença de Deus no meio do povo, não seria mais necessária, porque o “Trono do Senhor” será estabelecido e manifesto. Devemos lembrar que Deus se fazia presente entre os querubins na arca (Ex 25.18-22; Nm 7.89).

Deus disse que a Arca da Aliança não será mais necessária. Vemos que a Palavra de Deus direciona o homem a compreender que a revelação de Deus é mais profunda do que símbolos; assim, é preciso abandonar os símbolos, que eram para determinado período da história. Vemos que o Novo Testamento lança luz sobre o Antigo Testamento. Vivemos atualmente dentro da Nova Aliança; a revelação do Verbo de Deus ofuscou todos os símbolos judaicos, de modo que não é mais necessário o homem observar toda a simbologia do culto judaico. Se a luz já fora manifesta, não se faz mais necessário a sombra.

Vemos como Isaías, mediante revelação divina, “vence” alguns paradigmas humanos ao afirmar que o céu é o trono de Deus e a terra é o estrado [7]Estrado é uma estrutura plana, em geral de madeira, que se assemelha a um palanque baixo, construída acima do nível do chão, para que, ao formar um piso mais elevado, ponha em destaque pessoa ou … Continue reading dos Seus pés (Isaías 66.1):

Assim diz o SENHOR: “O céu é o meu trono, e a terra é o estrado dos meus pés. Que casa, então, vocês poderiam construir para mim? Ou que lugar para o meu repouso? [8]Op. Cit. – Is 66.1

Nós como seres humanos desejamos que Deus se amolde à nossa realidade. Existem pessoas que ainda hoje acreditam que Deus habita em templos feitos por mãos de homens. Sabemos que Deus habita no coração daqueles que são Suas ovelhas. Vemos ainda hoje no meio evangélico muito misticismo que atrofia a mente das pessoas e as impossibilita de compreender melhor a revelação de Deus.

Também, vemos como o salmista exalta o fato de que Deus não está adstrito a um lugar (Salmos 11.4):

O SENHOR está no seu santo templo; nos céus o SENHOR tem o seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens. [9]Op. Cit. – Sl 11.4

O salmo 103 também diz que o trono de Deus é estabelecido no céu e o seu reino domina sobre tudo (Salmos 103.19):

Nos céus, o SENHOR estabeleceu o seu trono, e o seu reino domina sobre tudo. [10]Op. Cit. – Sl 103.19

Vemos também que de forma gloriosa a Palavra de Deus afirma que viveremos na nova Jerusalém, porquanto haverá novo céu e nova terra. Jerusalém será chamada de “Trono de Deus” (Apocalipse 21.2-3):

2Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva enfeitada para o seu noivo. 3Então ouvi uma voz forte que vinha do trono e dizia: — Eis o tabernáculo de Deus com os seres humanos. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles e será o Deus deles. [11]Op. Cit. – Ap 21.2–3

Dessa forma, não devemos nos preocupar aonde está a Arca da Aliança (se é que ela ainda existe hoje), porquanto vivemos na Nova Aliança, onde as simbologias do Antigo Testamento são esclarecidas pela revelação de Deus no Novo Testamento.

Referências

Referências
1 João Ferreira de Almeida, trad., Nova Almeida Atualizada, Edição Revista e Atualizada®, 3a edição (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017), Jr 3.16–18.
2 John L. Mackay, Jeremias, trad. Vagner Barbosa, 1a edição, vol. 1, Comentários do Antigo Testamento (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2018), 226–227.
3 ibidem, 2Cr 36.5–8.
4 op. cit., 2Rs 24.12–13
5 op. cit. 2Rs 18.14b–16.
6 Confira este importante texto escrito pelo Dr. Michael S. Heiser – https://blog.logos.com/ark-covenant-will-never-found/
7 Estrado é uma estrutura plana, em geral de madeira, que se assemelha a um palanque baixo, construída acima do nível do chão, para que, ao formar um piso mais elevado, ponha em destaque pessoa ou coisa.
8 Op. Cit. – Is 66.1
9 Op. Cit. – Sl 11.4
10 Op. Cit. – Sl 103.19
11 Op. Cit. – Ap 21.2–3
Nasceu e cresceu na Pensilvânia e estudou na Bucknell University, no Gordon-Conwell Theological Seminary e no Westminster Theological Seminary. Por muitos anos, foi pastor da Redeemer Presbyterian Church, em Manhattan, igreja que fundou em 1989 com a esposa, Kathy, e seus três filhos. Keller também é o presidente e um dos fundadores do Redeemer City to City, um ministério para o fomento da plantação de igrejas em contextos urbanos. É autor best-seller do New York Times e escreveu vários livros, entre eles A cruz do Rei, Deuses falsos, O Deus pródigo, Deus na era secular, Ego transformado, A fé na era do ceticismo, Igreja centrada, Pregação, Nascimento, casamento e morte e muitos outros publicados por Vida Nova.
Stephen J. Wellum (PhD, Trinity Evangelical Divinity School) é professor de Teologia no Southern Baptist Theological Seminary e editor do Southern Baptist Journal of Theology. Stephen e sua esposa, Karen, têm cinco filhos.
Sinclair Fergunson (PhD, University of Aberdeen) é professor de Teologia Sistemática no Redeemer Seminary, em Dallas, e também leciona no Ligonier Ministries. Ferguson foi pastor da First Presbyterian Church, de Columbia, e é autor de diversos livros, entre eles Um coração voltado para Deus e Somente Cristo, publicados por Vida Nova.
Ricardo Manhães de Mendonça é bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. Asbel Green Simonton (Seminário do Rio de Janeiro). Atua como pastor na Igreja Presbiteriana Central em São Pedro da Aldeia e Congregação Presbiteriana Novo Mundo em Cabo Frio. É casado com Antônia Mendes Mendonça e pai da Ana Carolina e Pedro.
R. C. Sproul (1939-2017) foi fundador do Ligonier Ministries, editor executivo da revista Tabletalk, plantador e pastor da Saint Andrew’s Chapel, na Flórida, e o primeiro diretor da Reformation Bible College. Sproul também foi um dos apresentadores do programa de rádio Renewing your Mind, ainda transmitido diariamente. Escreveu mais de uma centena de livros, entre eles Filosofia para iniciantes, Faça diferença e Se Deus existe, por que existem ateus?, publicados por Vida Nova.
Peter J. Gentry (PhD, University of Toronto) é professor de Interpretação do Antigo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary e diretor do Hexapla Institute.
É Ph.D. pela Northwestern University. Foi professor de Teologia Sistemática e deão no Bethel Seminary durante muitos anos. Atualmente leciona no Western Seminary, nos Estados Unidos. No Brasil, tornou-se bastante conhecido por causa de sua Introdução à Teologia Sistemática, obra também publicada por Edições Vida Nova.
Martinho Lutero (1483-1546), uma das figuras mais importantes da história ocidental, foi um personagem fundamental da Reforma Protestante. Lutero é mais conhecido por suas Noventa e Cinco Teses (1517). Nelas, Lutero argumentava que as indulgências não eram atos de penitência que poderiam substituir o verdadeiro arrependimento.
J. C. Ryle (1816-1900) foi bispo da Igreja da Inglaterra, em Liverpool. Conhecido por sua erudição e piedade, Ryle era também um escritor prolífico, um pregador vigoroso e um ministro fiel. Suas obras mais conhecidas são “Santidade” e também uma série de meditações nos quatro evangelhos, todos publicados pela Editora Fiel.
Hudson Carvalho é Mestre em Divindade (M.Div.) pelo Seminário Martin Bucer (São José dos Campos, SP), com ênfase em Teologia Histórica e Sistemática. Atua como pastor na Igreja Reformada em Vila Velha, especialmente na parte de ensino. É editor do EvangelhoEterno.Org, que visa propagar o evangelho de Jesus Cristo por meio de uma abordagem bíblica e confessional (teologia reformada). É casado com Luane Magnago e tem uma filha, Alice.
Gedimar Junior é formado em Teologia pelo Seminário Teológico Evangélico Betel Brasileiro e pelo Seminário Martin Bucer. Mestre em hermenêutica e exposição bíblica pelo Seminário Teológico Evangélico Betel Brasileiro (ThM). Atualmente é mestrando em divindade (MDiv) pelo Seminário Martin Bucer, com ênfase em Teologia Sistemática e Histórica, e bacharelando em Filosofia na Faculdade Presbiteriana Mackenzie. É professor de teologia e filosofia no Seminário Betel Brasileiro e no Seminário Teológico Batista do Sudeste. Serve à Igreja do Senhor como presbítero na Igreja Batista Vila Olímpia, SP.
O portal EvangelhoEterno.Org é um site cristão criado com o objetivo de contribuir para o avanço do Evangelho de Jesus Cristo em toda a face da terra. Temos o desejo de que as pessoas estejam cheias da Palavra de Deus, que é a verdade absoluta, e do poder do Espírito Santo.
Charles Haddon Spurgeon, referido como C. H. Spurgeon, foi um famoso pregador batista inglês, que se tornou conhecido como “o príncipe dos pregadores”. Durante seus mais de 30 anos de ministério, Spurgeon pregou para grandes multidões e escreveu mais de 3.500 sermões e 135 livros, muitos dos quais ainda são lidos e estudados hoje. Ele foi um defensor do evangelho reformado e enfatizou a importância da pregação expositiva das Escrituras.
A W Pink
Arthur W. Pink (1886-1952) foi um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX. Erudito bíblico de persuasão reformada e puritana, Pink escreveu várias obras literárias e pastoreou diversas igrejas nos EUA, além de ter servido como ministro na Inglaterra e Austrália.

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