Se você está lendo este post é porque possivelmente você já é um cristão e está interessado em conhecer mais a respeito da revelação bíblica. Você já parou para analisar por que a Bíblia é dividida em Antigo e Novo Testamento? Neste post você compreenderá muito bem isso.
A palavra testamentum advém da Vulgata Latina
Em português, a palavra “testamento” significa a última expressão de vontade de determinada pessoa antes de morrer. No testamento, o testador dispõe de seus bens, no todo ou em parte, para depois de sua morte. No entanto, este não é o sentido que deve ser extraído quando pensamos na divisão da Bíblia em dois grandes blocos, o Antigo e o Novo.
A palavra grega διαθήκη (diatheke), usada nos escritos originais em grego koiné, significa aliança ou pacto. Tal vernáculo foi traduzido incorretamente por testamentum na Vulgata Latina (traduzida por Jerônimo entre os anos de 382 – 405 d.C).[1]M. G. Easton, Illustrated Bible Dictionary and Treasury of Biblical History, Biography, Geography, Doctrine, and Literature (New York: Harper & Brothers, 1893), 663. O termo grego καινὴ διαθήκη (kainē diathēkē), que significa Nova Aliança, foi traduzido para o latim como “Novum Testamentum”, que por sua vez produziu o termo “Novo Testamento”.[2]Abner Chou, “New Covenant”, in Dicionário Bíblico Lexham, org. John D. Barry (Bellingham, WA: Lexham Press, 2020
De fato, a palavra em latim “testamentum” tem o mesmo significado da palavra “testamento” em português, qual seja, o documento que expressa a última vontade de determinada pessoa antes de morrer.[3]F. F. Bruce, O Cânon das Escrituras: Como os Livros da Bíblia Vieram a Ser Reconhecidos como Escrituras Sagradas?, org. Juan Carlos Martinez, trad. Carlos Osvaldo Pinto, 1a edição (São Paulo: … Continue reading
Em razão disso, ainda hoje usamos a palavra testamento para se referir às duas divisões da Bíblia Sagrada, Antigo e Novo Testamento. No entanto, é preciso deixar claro que a palavra “testamento” ali empregada não deve ser compreendida como o documento que expressa a última vontade, isto porque a palavra grega διαθήκη (diatheke) significa originalmente aliança ou pacto.
A tradução da palavra grega diatheke em português
Veja abaixo a tradução da palavra diatheke na versão Almeida Revista e Atualizada – ARA:
Observe que, nesta tradução da Bíblia para o português, em apenas dois momentos a palavra diatheke foi traduzida como testamento. Isto porque, para melhor compreender tais passagens bíblicas, a melhor palavra para nós brasileiros seria, de fato, a palavra testamento. Essas duas passagens bíblicas encontram-se em Hebreus:
15 Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; 16 pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador.
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Hebreus 9.15-16. (grifos acrescidos)
Neste contexto, a palavra “testamento” exprimi a ideia de que os beneficiários da aliança possuem um direito à herança. A morte de Cristo nos deu o direito a uma herança eterna — a vida eterna ao lado de Deus. Todos os filhos de Deus possuem o direito à herança; Paulo deixa isso muito claro ao escrever aos gálatas:
6 E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! 7 De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus.
Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993), Gálatas 4.6-7. (grifos acrescidos)
Conclusão
Assim, seria mais correto dizermos que a Bíblia é dividida em Antiga e Nova Aliança. No entanto, muito se popularizou a expressão “testamento” para se referir à divisão bíblica.
Não vemos problemas em se usar a palavra “testamento”, desde que seja compreendido que a referida palavra, sob o aspecto bíblico, expressa a ideia de aliança, isto é, o pacto que Deus realizou em determinado momento da história para se relacionar amorosamente com suas criaturas.
Referências[+]
↑1 | M. G. Easton, Illustrated Bible Dictionary and Treasury of Biblical History, Biography, Geography, Doctrine, and Literature (New York: Harper & Brothers, 1893), 663. |
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↑2 | Abner Chou, “New Covenant”, in Dicionário Bíblico Lexham, org. John D. Barry (Bellingham, WA: Lexham Press, 2020 |
↑3 | F. F. Bruce, O Cânon das Escrituras: Como os Livros da Bíblia Vieram a Ser Reconhecidos como Escrituras Sagradas?, org. Juan Carlos Martinez, trad. Carlos Osvaldo Pinto, 1a edição (São Paulo: Hagnos, 2011), 19. |