Biblical Reasoning – John Webster

The Domain of the Word: Scripture and Theological Reason (T&T Clark Theology)

Em sua obra “Biblical Reasoning”, Webster desenvolve o tema sobre como a teologia cristã é razão bíblica, ou seja, é a atividade do intelecto criado, julgado, reconciliado, redimido e santificado pelas obras de Cristo e do Espírito Santo. Raciocínio bíblico é pensar na revelação de Deus.

Logo de início, observamos que o autor refuta obliquamente a tese dos fideístas; assim, o aparente conflito entre fé a razão reside no fato de que tais pessoas não compreenderam o real significado do que venha ser razão bíblica. Não existe contradição entre a Escritura e a razão. Com isso, o autor não está afirmando que todos os pensamentos das criaturas são puros; pelo contrário, mas que a Palavra e o Espírito trabalham para santificar a razão.

John Webster entende que é preciso perguntar o que a Escritura e a razão são e para que servem; segundo o autor, a resposta está na economia divina: Deus estabelece e mantém comunhão com suas criaturas. Deus se dirige às criaturas por meio de sua Palavra. Vemos que o autor realiza certo movimento para afirmar que a comunhão com Deus é uma comunhão racional. Nesta senda, compreendemos que a comunhão com Deus não é mera sensação, sentimento ou força interior, mas a revelação visa levar o homem a compreender e a obedecer a Deus por meio de sua razão. A teologia cristã se presta a isso.

A comunhão cognitiva entre as criaturas e seu Criador amoroso se dá por meio da Palavra. Para tanto, Webster deixa evidenciado que tanto a Escritura como a razão são realidades criadas por Deus. As criaturas são convocadas a conhecer e a amar a Deus. O Criador ama suas criaturas, tanto que lhes outorga vida. Entendemos que Webster deixa claro que a vida não se exaure meramente no sopro divino, que mantém as criaturas, mas uma vida caracterizada pelo conhecimento e pelo amor.

Segundo o autor, não podemos enxergar simplesmente que a razão bíblica guarda relação com a economia divina sem incluir a história da redenção. Pelo fato de as criaturas terem caído em pecado por meio de Adão, o representante federal, elas repudiam a Palavra doadora de vida. Entretanto, Deus por sua gloriosa graça envia o Filho e o Espírito para intervir na história da humanidade. Deus não é dado a conhecer apenas por meio de seus atos criativos, mas pela redenção executada pelo Verbo.

Deus não é dado a conhecer apenas por meio de seus atos criativos, mas pela redenção executada pelo Verbo.

John Wester – Biblical Reasoning in The Domain of the Word: Scripture and Theological Reason (T&T Clark Theology)

O Espírito Santo é a pessoa da Trindade que consuma a comunhão cognitiva entre Deus e suas criaturas. As criaturas só podem conhecer e ouvir porque o Espírito lhes dá tal capacidade. A revelação não é governada pelas criaturas, mas pelo próprio Deus que as dirige e as encaminha para um estado de comunhão. É por meio da Sagrada Escritura e pelo Espírito que Deus se faz conhecido e amado por suas criaturas.

John Webster registra que a Escritura é um testemunho profético e apostólico que não ficaram circunscritos à ocasião original, mas Deus criou a “embaixada da Palavra”. Os profetas e apóstolos foram instrumentos de comunicação entre Deus e suas criaturas. Deus os comissionou para a realização de tal tarefa não porquê tinham vocação inata para tal, mas o próprio Deus os governou e os atraiu para o movimento de sua autorrevelação. O apóstolo Pedro deixa isso registrado em 2Pe 1.21.

…porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.

 2 Pedro 1.21 – Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993)

De fato, a queda da humanidade trouxe várias consequências, dentre elas, a morte espiritual. Assim, poderíamos pensar: “como pode uma razão corroída pelo pecado ser considerada bíblica e representar a vontade de Deus?”. A depravação não é negada pelo autor; pelo contrário. Contudo, é importante notar que Webster não afirma que as pessoas possuem condições de conhecer o Criador por seu ato próprio de vontade; até porque o elemento volitivo do ser humano encontra-se eivado pelo pecado.

Webster deixa consignado que a reabilitação da razão está entre os benefícios que resultam da obra redentora da Palavra e que o Espírito realiza o reino nas criaturas. Deus opera a chamada vivificação da mente. Evidente que o homem precisa que seu intelecto seja humilhado. Quem realiza isso é o próprio Deus. Isso nos faz lembrar de como Paulo foi confrontado pelo Senhor Jesus no caminho para Damasco. Paulo entendia que perseguir os cristãos era a coisa certa a se fazer. Este confronto operado hodiernamente pela Palavra e pelo Espírito humilha o entendimento humano; Deus faz com que possamos enxergar quem verdadeiramente somos.

No entanto, o Espírito Santo trabalha como reorientador da razão. Somente mediante a obra vivificadora da razão é que podemos pensar em razão bíblica. Com efeito, segundo o autor, a teologia é um exemplo claro de julgamento intelectual redimido. A razão criada e caída é redimida por Deus. Compreendemos que Deus glorifica seu nome quando suas criaturas são capacitadas para a razão bíblica.

John Webster afirma que a razão participa da morte e ressurreição, que são a base e o padrão da existência redimida. Compreendemos aqui que o autor faz menção à doutrina da regeneração, que é operada pelo Espírito Santo. À medida que a razão teológica realiza tarefas exegéticas e dogmáticas, o intelecto humano é afastado dos ídolos. Deus não apenas mortifica e humilha nossa razão, mas ele a vivifica pela Palavra e pelo seu Espírito.

Hudson Carvalho é Mestre em Divindade pelo Seminário Martin Bucer (São José dos Campos, SP), com ênfase em Teologia Histórica e Sistemática. Atua como pastor auxiliar na Igreja Reformada em Vila Velha, especialmente na parte de ensino.

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