Ao pensarmos sobre Deus, o todo-poderoso, devemos sempre ter em mente que estamos falando sobre o Criador de todas as coisas, cuja mente é infinitamente mais elevada do que a nossa. Deus é Santo, Santo, Santo. Deus nunca pecou e nunca irá pecar. No entanto, nós somos pecadores e temos nossa mente marcada pelo pecado.
Dessa forma, não podemos comparar os nossos pensamentos com os do Senhor, porquanto a mente de Deus é insondável. Deus nunca precisou pedir conselho a absolutamente ninguém, porque Deus é a fonte de toda a sabedoria. Seus juízos são insondáveis e seus caminhos inescrutáveis (Romanos 11.33-35).
Conhecer a Deus nos humilha, porque quanto mais conhecemos de Deus mais nos sentimos miseráveis pecadores, merecedores do santo e justo juízo de Deus.
Muitas vezes não entendemos perfeitamente que Deus se ira contra o pecado. Às vezes as pessoas têm mente que Deus fica apenas decepcionado com o pecado e que Deus não pode se irar, porque Deus é amor e jamais irá fazer “mal” a alguém por qualquer ato que seja.
No entanto, este pensamento é proveniente de Satanás, que visa incutir na mente das pessoas que o fato de Deus se irar contra o pecado e contra o pecador o faz um ser terrível, soberbo e malvado. Essa foi a mesma ideia que o diabo tentou inserir na mente de Eva, ao afirmar que Deus era mentiroso e que, na verdade, Ele não queria concorrentes: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gênesis 3.5)
Nesta mesma esteira, é comum o pensamento de que Deus é bom e por isso não pode punir ninguém. Segundo este pensamento, é obrigação dele ter misericórdia, porque Seu eterno poder e força não se compararam com o de um ser humano. Infelizmente muitos têm se deixado levar por esta doutrina de demônios que distorce a doutrina do conhecimento de Deus, conforme Ele mesmo revelou nas Escrituras Sagradas.
Muitas das vezes, as pessoas têm uma imagem de deus em suas mentes que não é a imagem do Deus da Bíblia. Tais pessoas fizeram para si um verdadeiro bezerro de ouro (Êxodo 32).
Ao estudarmos com temor e cuidado a Palavra do Senhor, podemos observar que o conhecimento sobre Deus nos humilha e nos coloca em nossos devidos lugares: miserável pecadores que somos, carecedores da graça de Jesus.
Assim, ao pensarmos sobre Deus e sua providência (soberania), precisamos ter em mente que os pensamentos de Deus não são os nossos e sofrem nossas limitações. O juízo do Senhor não se compara com nosso senso de justiça. A bondade de Deus não é a nossa. A misericórdia do Senhor não se compara com nenhum tipo de boa ação que algum dia já tenhamos praticado. Nossas justiças, por melhores que sejam, não passam de trapos de imundícia diante do Senhor (Isaías 64.6).
Um dos atributos de Deus é a onisciência, que significa que Deus conhece plenamente a si mesmo e todas as coisas atuais e possíveis. [1]Wayne Grudem, Teologia Sistemática: segunda edição revisada e ampliada, 2o ed (São Paulo, SP: Vida Nova, 2021), 275. Com efeito, o conhecimento de Deus é exauriente, pleno; é impossível Deus não conhecer sobre alguma coisa. O conhecimento que Deus tem de si mesmo e do universo é tão decisiva e claramente ensinado na Escritura que, em todas as épocas, foi reconhecido na igreja cristã.[2]Herman Bavinck, Deus e a Criação, org. VagnerTradutor Bolt JohnOrganizador, Barbosa, 1a edição, vol. 2, Dogmática Reformada (Editora Cultura Cristã, 2012), 198. Em Jó 37.16, vemos a declaração de Eliú de que Deus é “perfeito em conhecimento”. O apóstolo João afirma que Deus “conhece todas as coisas” (1João 3.20).
Deus é Espírito (João 4.24) e ilimitado, nenhum espaço do universo pode contê-lo (Salmo 119.7-10; 1Reis 8.27). Deus conhece a si próprio; isto por si só é espantoso, pois o próprio Deus é infinito e ilimitado.[3]Grudem, Teologia Sistemática, 275. Paulo afirma que ninguém pode conhecer as profundezas de Deus, senão o próprio Espírito de Deus:
Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas
1Coríntios 2.10–11
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as
coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as
coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.
Ao falar sobre a salvação do povo de Deus, sua eleição e predestinação, Paulo interrompe todo o seu raciocínio para louvar a Deus, porque o plano de redenção é tão sublime, a mente de Deus é tão elevada e brilhante que ninguém pode penetrar nas profundezas do pleno conhecimento de Deus:
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!
Romanos 11.33–36
Deus conhece plenamente também todas as coisas, tanto as do passado, presente e futuro. Não há nenhuma criatura encoberta diante de Deus, ao contrário, todas estão “descobertas e expostas aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hebreus 4.13). A mesma verdade é reverberada na Escritura em 2Crônicas 16.9; Jó 28.24; Mateus 10.29,30. Deus conhece de forma exauriente (plenamente) todas as coisas e todas as criaturas, sejam as terrenas sejam as celestes. Deus estabeleceu todas as coisas desde a eternidade e conhece tudo, desde o princípio até o fim de todas as coisas:
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade;
Isaías 46.9–10
Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura. Eis que as primeiras predições já se cumpriram, e novas coisas eu vos anuncio; e, antes que sucedam, eu vo-las farei ouvir.
Isaías 42.8–9
Jesus já disse que antes mesmo de pedirmos algo a Deus em oração, ele já sabe e conhece profundamente as nossas necessidades (Mateus 6.8). Isso é motivo de encorajamento para orarmos, porquanto sabemos que Deus nos ouve e pode fazer todas as coisas; a oração é meio decreto por Deus pelo qual ele cumpre seu divino propósito em tudo e se relaciona conosco. O próprio Cristo também afirmou que até mesmo os cabelos de nossa cabeça estão contados diante de Deus (Mateus 10.30).
Davi, ao meditar nas profundidas da grandeza do conhecimento de Deus, afirmou: “SENHOR, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos.” (Salmo 139.1–2). Antes mesmo que uma palavra sequer chegue em nossos lábios, o Senhor já conhece (Salmo 119.4). Mais adiante, na mesma poesia, Davi escreveu: “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.” (Salmo 139.16). Davi ficou maravilhado, mediante inspiração do Espírito Santo, de que toda a sua história já estava determinada por Deus e nada fugiria do propósito de Deus.
Nesta esteira, ao estudarmos a doutrina da eleição e da predestinação convidamos você, solenemente, a prestar atenção ao que a Palavra de Deus diz a respeito deste Deus. Também é importante ressaltarmos que, apesar de ter havido desvio doutrinário desta verdade ao longo dos séculos, esta mesma verdade sempre foi preservada pelo povo de Deus ao longo de toda a história do cristianismo. Isto é, apesar de a doutrina da eleição e da predestinação estar associada umbilicalmente à Reforma Protestante do século XVI, especialmente aos escritos de reformadores como Lutero e Calvino, é imperioso ressaltar que esta mesma compreensão à luz das Escrituras atravessa todo o período do cristianismo. O que a Reforma fez é resgatar o cristianismo apostólico, tendo como pedra fundamental a Palavra de Deus.
Referências[+]
| ↑1 | Wayne Grudem, Teologia Sistemática: segunda edição revisada e ampliada, 2o ed (São Paulo, SP: Vida Nova, 2021), 275. |
|---|---|
| ↑2 | Herman Bavinck, Deus e a Criação, org. VagnerTradutor Bolt JohnOrganizador, Barbosa, 1a edição, vol. 2, Dogmática Reformada (Editora Cultura Cristã, 2012), 198. |
| ↑3 | Grudem, Teologia Sistemática, 275. |