Perdão e Reconciliação - Pregação da Palavra de Deus - Hudson Carvalho

Perdão e Reconciliação: O Drama de Uma Família Amargurada

Neste vídeo, o pastor Hudson Carvalho prega o sermão baseado no texto em Gênesis 50.15-21. A Bíblia retrata nestes versos que lemos a história da restauração de uma família amargurada, a família de Jacó (também conhecido como Israel). Uma história que envolve ciúmes, inveja, ira, raiz de amargura. O evangelho de Jesus Cristo muda a nossa vida e muda nossas relações. José era um homem transformado pela graça de Deus, que não usou o poder que Deus havia lhe dado para fazer mal à sua família. Antes, Deus colocou José nesta posição para ele ser um instrumentos de restauração na família: para socorrer no momento da adversidade, da fome, e demonstrar misericórdia e perdão. Assim procede um verdadeiro cristão.

assistir conteúdo

texto do sermão

Perícope

Vendo os irmãos de José que seu pai já era morto, disseram: É o caso de José nos perseguir e nos retribuir certamente o mal todo que lhe fizemos. Portanto, mandaram dizer a José: Teu pai ordenou, antes da sua morte, dizendo: Assim direis a José: Perdoa, pois, a transgressão de teus irmãos e o seu pecado, porque te fizeram mal; agora, pois, te rogamos que perdoes a transgressão dos servos do Deus de teu pai. José chorou enquanto lhe falavam. Depois, vieram também seus irmãos, prostraram-se diante dele e disseram: Eis-nos aqui por teus servos. Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Não temais, pois; eu vos sustentarei a vós outros e a vossos filhos. Assim, os consolou e lhes falou ao coração.

Gênesis 50.15–21 – ARA

1. Introdução

‌A Bíblia retrata nestes versos que lemos a história da restauração de uma família amargurada, a família de Jacó (também conhecido como Israel). Uma história que envolve ciúmes, inveja, ira, raiz de amargura. Esta é a família da aliança eleita por Deus para ser seu povo exclusivo: os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. Estes são também conhecidos como “Os Patriarcas”.

‌Deus escolheu de todas as pessoas da terra a pessoa de Abraão para que, a partir dele, o plano de salvação se desenrolasse na história: a vinda do Messias, o Filho de Deus.‌ A benção da aliança recai sobre a vida do filho da promessa, Isaque, e não sobre a vida de Ismael. Quanto ao descendente de Isaque, a bênção da aliança recai sobre a pessoa de Jacó e não sobre Esaú.

‌Jacó ocupa a cena principal dos capítulos 25 a 36 de Gênesis. Foi pela graça que Deus mudou a história deste homem, que de trapaceiro tornou-se filho de Deus. Deus mudou o nome de Jacó para Israel.‌ Israel teve 12 filhos homens. José era o filho 11º, o primeiro filho de sua amada esposa Raquel.

‌O ódio dos irmãos por José

‌Como a Bíblia narra, Jacó amava muito José, mais do que seus irmãos. As relações familiares começaram a complicar quando José ganha de seu pai uma túnica de muitas cores, uma espécie de casaco ornamentado (Gn 37.3).

A partir deste instante, os dez irmãos mais velhos começaram a cultivar em seus corações um sentimento de ódio mortal por ele. Isso tudo se intensifica mais quando Deus dá a José um sonho: no sonho José relata que viu que todos estavam no campo e tinham feixes. O feixe de José se levantava e ficava em pé, enquanto os feixes dos irmãos ficavam ao redor e se inclinaram diante dele (num nítido ato de reverência).

‌Os irmãos logo exclamaram: “Você pensa que é melhor do nós? Acha que vai nos dominará?

‌O ódio crescia em seus corações.‌ Logo depois José teve outro sonho: Ele sonhou que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam diante dele.

Isso de certa forma causou indignação não só da parte de seus irmãos, mas também do seu próprio pai, Jacó. A família interpretou corretamente o sonho: o pai, a mãe e seus irmãos iriam se inclinar diante de José. Apesar de toda a indignação, diz a Escritura que Jacó guardou aquilo no coração como um sinal (Gn 37.11).

Todos estes eram sinais de Deus na vida de José. Seus irmãos não compreendiam isso; eles não mais dominavam a si próprios, mas o ódio é que os dominava. O ódio por José era tão intenso e estava tão enraizado nos corações que seus irmãos planejaram matá-lo.

A família estava por se desfazer. A loucura de matar o próprio irmão mostra que eles estavam sendo guiados pelo pecaminoso sentimento da inveja e da raiva.

2. A inveja mostra o estado do coração: a insatisfação

‌O sentimento da inveja decorre de um coração que é insatisfeito. Um coração que deseja desesperadamente por algo com vistas à plena satisfação. Um coração invejoso, como o dos irmãos de José, é definitivamente o retrato de quem ainda não encontrou plena satisfação em Deus e naquilo que Deus já deu.

O coração fica inquieto! O coração deseja aquilo que Deus não deu. Para este coração, Deus e as bênçãos de Deus já não são mais suficientes; é necessário cobiçar o que o outro tem e até mesmo desejar o mal do próximo.

A inveja é o desgosto ressentido e até mesmo odioso pela boa fortuna ou bem-aventurança de outro.

“Inveja”, in Dicionário de Ética Cristã, trad. Elizabeth Gomes (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007), 369.

‌Nossa palavra inveja vem do latim in-video, que quer dizer “olhar contra”, ou seja, olhar com má vontade para outra pessoa em virtude do que ela é ou tem.

William Hendriksen in “Gálatas”

‌Ter inveja no coração é um problema da humanidade caída da presença de Deus. Foi por inveja que Abel foi morto por seu irmão Caim; e este foi o primeiro episódio de homicídio na humanidade. A inveja é um problema crônico de uma humanidade caída, sem Deus.

Cultivar inveja no coração é quebrar o décimo mandamento da Lei de Deus, que é “não cobiçarás”.‌ Além de ser expressamente proibida na Lei, a inveja também é reconhecidamente no Novo Testamento como:

‌1. um pecado listado juntamente com o assassinato e o ódio a Deus – Romanos 1.29;

2. é obra da carne, como diz o apóstolo Paulo em Gálatas 5.21, o que impede a pessoa de entrar no Reino de Deus;

3. o motivo pelo qual os líderes religiosos de Israel entregaram Jesus para ser morto – Mateus 27.18;

Quantas vezes somos movidos em nossa vida pela inveja. A inveja está mais perto do nosso coração do que imaginamos:

‌- cobiçar o que o outro possui;

– desejar o mal vir sobre a vida de uma pessoa;

‌- fica com raiva quando o próximo está prosperando e você nem tanto (ou o próximo vende mais do que você);

‌Os irmãos de José cultivaram inveja em seus corações por anos, o que os levou a pensar em matar o próprio irmão para tentar “solucionar o problema”.‌ Quando cultivamos em nossos corações esta obra da carne, nossa vida espiritual fica sufocada e infrutífera. A inveja pode nos levar a cometer loucuras.

‌O salmista já deixou registrado: “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará” (Salmo 23.1). A expressão “nada me faltará” deve ser compreendida teologicamente como: “Se o Senhor é o meu pastor, aquilo que eu não tenho, não preciso sequer desejar, porque ele preenche todo o meu coração” ou “O Senhor é suficiente para mim, ele é o meu maior tesouro, nada se compara a ele”.

‌Quando o Senhor não é definitivamente o nosso verdadeiro tesouro, o nosso bem maior, nossa alma fica inquieta, insatisfeita.

Agostinho acertadamente deixou registrada a frase, em seu livro Confissões:

Senhor, tu nos criaste para ti e nosso coração vive inquieto enquanto não repousarmos em ti!

Agostinho in “Confissões”

A inveja é o resultado da inquietude de um coração que vive insatisfeito!

3. Os planos de Deus prevalecem sobre José

‌Apesar de os irmãos terem tramado a morte de José, no final, eles resolveram vendê-lo como escravo a uma caravana de ismaelitas (que também são descendentes de Abraão). Gn 37.27.

‌Veja, isso intensifica o drama: o plano era matar, mas depois os irmãos resolveram vender José como escravo para uns parentes distantes, da mesma família, descendentes de Ismael, filho de Abraão com a escrava Hagar.

‌Para os irmãos, José não tinha valor; José foi tratado como uma mercadoria.‌ José foi parar no Egito, na casa de Potifar, seu novo “proprietário”.

‌Parecia que tudo estava perdido e o plano maléfico dos irmãos de José parecia estar dando certo. No entanto, os planos de Deus não podem ser frustrados pelo homem. O Senhor já havia anunciado previamente a Abraão que seus descendentes iriam ser peregrinos em terra alheia e que seriam reduzidos à escravidão por 400 anos (Gn 15.13).

‌O povo de Israel foi parar no Egito por um plano eterno de Deus. Deus precisava ensinar seu povo o que é redenção, o que é a verdadeira liberdade. Para tanto, eles precisam experimentar a escravidão como forma de ensino.

‌É Deus quem governa a história. Deus como Senhor de toda a história usa a maldade do homem para cumprir seus propósitos eternos e inescrutáveis, para que o propósito quanto à eleição prevaleça, não a vontade humana.

‌Assim, Deus em sua eterna sabedoria e soberania já tinha decretado que seu povo passaria por escravidão no Egito. Para cumprir este propósito, Deus usa a maldade dos irmãos de José para trazer toda a família de Israel para o Egito.

Os planos de Deus sempre prevalecem!

‌A Bíblia relata que Deus amava José. Deus prosperava José em tudo quanto fazia. José alcança o que pode ser visto como três níveis de sucesso no Egito:

1. ele passa rapidamente de escravo comum a notável e respeitado empregado doméstico;

2. depois ele passa a ser assistente pessoal de Potifar; e

3. depois se torna supervisor da terra do Egito (Gn 39:2-4).

‌A única razão de José alcançar rapidamente uma posição de destaque foi porque Deus era com ele. O segredo de José era a presença da graça de Deus sobre a sua vida (Gn 39:2,3,5,21,23).

Como disse o notável reformador e servo de Jesus Cristo João Calvino: “Tudo o que você vê de bom em mim é Cristo. Tudo de mal, sou eu mesmo”.

O que define nossa vida

O que define nossa vida não é o nosso pecado, mas é a graça de Jesus em nossas vidas.‌ Se somos o que somos, se há alguma virtude em nós, é porque a graça de Deus está sobre nossas vidas.

‌Se olharmos para nós mesmos, dentro da ótica de Deus, nossas obras são más. Porque por melhores que sejam, nossas obras não nos salvam; o que nos salva é Cristo Jesus, o nosso Redentor.

‌O evangelho é anunciado como boas notícias na vida de pecadores que pela graça de Deus se arrependem do seu pecado. As virtudes nascem em nosso coração transformado pela graça, pela habitação de Cristo em nós por seu Espírito. Quando pertencemos a Cristo, exalamos seu bom perfume.

Se há alguma moral boa em nós, se exalamos o bom perfume, é por causa da obra de Cristo na cruz. O evangelho da graça transforma a vida dos pecadores!

‌O que nos define é quem somos em Cristo Jesus: somos escolhidos, perdoados, amados e salvos para dar bons frutos.

‌Talvez alguém possa olhar para nós e enxergar várias virtudes. Ou pensar: “como você faz isso?” ou “nossa, como você possui boas virtudes, não é mesmo?”. Ora, Cristo habita em nós pelo seu Espírito a fim de que possamos dar bons frutos.

‌O que seria de nós à parte de Cristo? Talvez pessoas moralistas, que acham que por sua boa conduta podem conquistar o coração de Deus e ganhar o céu.

NÃO! Deus nos livre deste pensamento maligno de Satanás!

‌A grande verdade sobre nós e nossas obras é a que Paulo deixou registrado em Efésios 2.10:

Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

Efésios 2.10 – ARA

‌Deus não apenas nos predestinou para a vida eterna em Cristo Jesus, mas também predestinou as boas obras que fazemos no poder do seu Espírito. Os cristãos fazem as obras de Cristo; todo o discípulo deve se parecer com seu Mestre. Somos o que somos unicamente pela graça de Jesus. Nada além disso.

A graça de Deus estava sobre a vida de José. A Bíblia registra claramente que todo o sucesso que José teve foi porque Deus assim queria e estava fazendo na vida dele.

4. José interpreta o sonho de Faraó: Deus anuncia grande fome sobre a terra

‌Certa vez, Deus deu a Faraó um sonho que ninguém podia interpretar, a não ser José (Gênesis 41:1-7). No sonho interpretado por José, Deus anuncia que viria um tempo de muita fome sobre a terra.

‌Pela interpretação do sonho, Faraó entende claramente que José possui “o espírito de Deus” e o promove a segundo em comando na terra do Egito (abaixo apenas do próprio Faraó), a fim de que ele implemente o plano para garantir o alimento em tempos de fome.

‌José ganha autoridade sobre toda a terra do Egito; o sonho que ele tinha anunciado a seus irmãos estava começando se cumprir.

‌Mediante o anúncio de Deus, José fez com que o Egito se preparasse para este período muito difícil. Nos primeiros sete anos, abundantes em alimentos, José armazenou imensas quantidades de grãos (Gn 41.47-49). Passado este período, no entanto, a fome chegou, inclusive na terra de Canaã, a terra que Deus havia prometido que seu povo herdaria para todo o sempre. Isso fez com que os irmãos de José, exceto Benjamin, descessem à terra do Egito para comprar grãos (Gn 42.1-5).

5. O Plano de Deus na Reconciliação Familiar

O Primeiro Encontro – a compra dos cereais

‌Os anos tinham se passado e chegou a hora de Deus colocar o plano de reconciliação da família em prática. Para isso, ele usa seu instrumento da graça: a pessoa de José.

‌Deus e suas coincidências: Era José quem vendia os grãos que tinham sido armazenados no tempo de abundância. Em uma surpreendente reviravolta e na realização dos sonhos de José, seus irmãos chegaram ao Egito para comprar alimento e “se curvam diante dele”, embora não o tivessem reconhecido (Gn 42:6-8).

‌José, no entanto, os reconheceu nitidamente.‌

José parece tratar seus irmãos com severidade, chamando-o de “espiões”. Ele os aprisionando por três dias e depois os libertou (Gn 42.9-20). No entanto, esta aparente severidade estava recheada de emoções: José ao fazer isso, secretamente, chorava por eles (Gn. 42.23-24).

‌O coração de José estava cercado de emoções pela sua família. Num primeiro momento, José parece corrigir seus irmãos, mas o texto demonstra claramente que José os amava e estava pronto para perdoa-los (ele chorava secretamente). Precisamos ver aqui José exercendo uma espécie de justiça retributiva na qualidade de governador do Egito; mas esta “justiça retributiva” era muito branda (porque não era necessariamente isso que seus irmãos de fato mereciam). Apesar disso, o coração de José, habitado pelo Espírito de Deus, demonstra amor, graça e misericórdia, conforme vemos no texto sagrado.

‌José deseja ver seu irmão mais novo, Benjamin, filho de sua mãe Raquel. Benjamin tinha ficado junto com seu pai, na terra de Canaã. José os libera para voltar para sua terra, juntamente com a comida necessária, mas, para garantir que eles voltarão ao Egito com o irmão mais novo, ele mantém seu irmão Simeão preso como refém.

‌Então, Jacó envia seu filho mais novo, Benjamin, junto com os demais irmãos de volta ao Egito.

O Segundo Encontro – o banquete

‌Este segundo encontro da família é marcado por intensa emoção e grande suspense.‌ Ao chegarem no Egito, os irmãos se apresentaram perante José. José mandou preparar uma grande refeição para eles (Gn 43.16). No entanto, os irmãos desconfiaram disso tudo e ficaram com medo de serem punidos por José.

‌José perguntou se o pai deles ainda estava vivo. Eles responderam que sim, o pai ainda vive. Mas ao ver Benjamin, o filho mais novo de sua mãe, José, tomado de intensa emoção, saiu correndo para chorar secretamente.

‌A refeição foi servida. José ao invés de oferecer uma punição severa aos seus irmãos que tanto lhe fizeram mal, ele oferece um banquete.

A atitude de José é a atitude de um verdadeiro cristão, aquele cujo coração foi transformado pela graça de Deus.

‌Cristo nos oferece um banquete da graça

Quero lembrar a vocês de uma fatídica quinta-feira: Jesus disse que iria cear com seus discípulos, na celebração da Páscoa. Alguns instantes antes de sua morte, os discípulos se reuniram juntamente com Cristo nesta última ceia. Jesus transfere a celebração da Páscoa judaica para a Ceia do Senhor e celebra esta refeição com amigos que logo mais tarde iriam correr, negá-lo deliberadamente e, no caso de Judas, traí-lo a confiança.

‌Jesus, ao invés de condena-los, ofereceu a si próprio em favor deles: ofereceu seu corpo e seu sangue para perdão dos pecados.

‌Ao invés de punir nossos pecados, Cristo se ofereceu em nosso lugar para que pudéssemos nos assentar à mesa com ele: por meio do sacrifício de Cristo somos convidados à celebrar a Ceia do Senhor, sua morte expiatória em nosso lugar.

‌É por meio deste banquete da graça que afirmamos que pertencemos ao Senhor e pertencemos uns aos outros, pois somos membros uns dos outros no Corpo de Cristo.

‌O verdadeiro cristão sabe o que é ser tratado com graça. O verdadeiro cristão sabe exatamente o que merece de Deus: a justa condenação pelos pecados; mas ao invés de nos punir os pecados, Deus escolheu puni-los em Cristo, para que hoje nos assentemos à mesa do Senhor.

‌A dignidade de nos assentarmos à mesa do Senhor não está em nós ou em nossa boa moral e conduta, mas na obra vicária de Cristo Jesus na cruz.

‌A dignidade de participar da Ceia não está em nós, mas nos fora imputada pela fé naquele que é o único capaz de satisfazer plenamente justiça de Deus; o único que teria condições, por seus próprios méritos, de agradar a Deus.

Cristo hoje nos oferece perdão, restauração, graça a todo o que nele crer.

‌Mas, neste banquete espiritual, Cristo exige algo de nós: não que isso nos torne dignos de alguma coisa; absolutamente. Cristo exige que nós perdoemos, assim como ele nos perdoou.

‌Deus simplesmente odeia a hipocrisia. Assim como ele nos perdoou ele quer que também pratiquemos o perdão.

‌Não há como participar da Ceia do Senhor, que afirma nossa comunhão com o Cristo Ressurreto e uns com os outros, se guardamos no coração mágoas, rancor, raiz de amargura, pensamentos facciosos, e outras tantas obras da carne.

‌A Ceia é celebrada por aqueles que são igreja, no Corpo de Cristo. Por meio da Ceia, nós afirmamos nosso compromisso pactual com Cristo e uns com os outros.

6. A manifestação da graça do perdão

‌Após a refeição, os irmãos se despedem mais uma vez, cheios de comida, conforme ordem de José. No entanto, José deseja testar a lealdade dos seus irmãos e arma uma situação: manda esconder sua taça de prata na bolsa de Benjamin. José bola uma espécie de simulação de “furto”, para saber se seus irmãos seriam leais ou não (isto é, se agiriam assim como agiram com ele anos atrás).

‌Logo na saída do Egito, os irmãos foram abordados pelo mordomo de José, que os acusava de terem roubado a taça de prata. A taça foi encontrada na bolsa de Benjamin.

‌Isso implicaria que Benjamin deveria ficar como escravo como forma de punição por ter roubado de José e ter “pagado o bem com o mal”.

‌Ao encontrar a taça na bolsa de Benjamin, todos retornam para a casa de José.‌ Nesta ocasião Judá sai em defesa de seu irmão mais novo e disse que seu pai já tinha perdido um filho e que não poderia perder seu outro filho com Raquel. Judá se oferece para ficar no lugar de seu irmão e cita em seu discurso mais de 14 vezes a expressão “meu pai”.

‌José não aguenta mais esconder sua identidade e se revela aos seus irmãos (Gn 45.1-4) num grito: “Eu sou José!”, “Sou aquele que vocês venderam como escravo ao Egito”.

‌Os irmãos ficaram com muito medo: estavam diante do governador do Egito e seu irmão, quem eles tanto tinham feito mal. Diz a Palavra que eles ficaram ATERRORIZADOS. Por certo, estavam pensando consigo: “Acabou! Vamos todos morrer! José vai se vingar de nós, agora ele um dos homens mais poderosos de toda a terra!”.

‌Mas o que acontece é uma bela cena promovida por um crente transformado pela graça de Deus. José disse: “Não fiquem tristes, nem fiquem irritados com vocês mesmos, foi propósito de Deus que tudo isso aconteceu: foi para preservar a vida de vocês que eu estou nesta posição!”; “Não foram vocês quem me enviaram para cá, mas o próprio Deus fez isso para que eu pudesse ajudar vocês!”.

‌Num ato emocionante José olhou para Benjamin, o filho mais novo de sua mãe Raquel, e abraçoou fortemente; todos eles choraram muito. José beijou todos os seus irmãos.

‌A graça que transforma e transborda

‌Meus amados irmãos, como é precioso sermos acolhidos por Deus. Deus poderia pagar por todo o mal que um dia já fizemos, por todos os odiosos pecados que já cometemos, mas ao invés disso ele nos perdoa e nos abraça!

‌Assim como José, homem transformado pela graça de Deus, devemos transbordar este amor para com os nossos irmãos.

O evangelho de Jesus transforma nossa vida de modo que devemos transbordar; as boas novas não devem ser apenas contadas com palavras, mas com nossa nova forma de vida, que procede não meramente preceitos morais ou boa conduta, mas da graça de Deus que converte o pecador.

‌A reconciliação traz cura para a alma; o perdão de Deus aquece nosso coração e nos faz amar uns aos outros.‌ A graça de Deus em nossas vidas precisa frutificar! Assim como o Senhor um dia nos perdoou de nossos pecados, devemos também perdoar.

Paulo afirma em Colossenses 3.13:

Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós;

Colossenses 3.13 – ARA

‌O Senhor Jesus afirmou:

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.

Mateus 6.14–15 – ARA

Exercer o perdão não é uma opção, mas é dever de todo o cristão verdadeiro. Deus simplesmente não aceita que procedamos de modo divergente de como fomos tratados: assim como Deus nos perdoou, também devemos exercer o perdão.

Perdoar não é esquecer, não é ter amnésia do passado. José não esqueceu o que seus irmãos fizeram com ele. Perdoar é uma decisão: é aceitar sofrer o dano no lugar de outro.

‌Lembre-se que o maior dano de todos foi suportado por Jesus. Jesus suportou uma condenação que não era dele próprio. A dívida que era nossa diante de Deus (pecado), Jesus pagou com seu precioso sangue derramado na cruz.

‌Perdoar é aceitar pagar a dívida, é aceitar receber o dano em prol de um bem maior. O perdão traz cura para a alma. Quem não perdoa, permite que nasça no coração um elemento extremamente danoso: a raiz de amargura, que é obra da carne. Como diz a Palavra, não herdará o reino de Deus aqueles que praticam as obras da carne!

‌Quando não aceitamos perdoar, estamos dizendo a Deus: “Deus, sei que o Senhor me perdoou dos meus terríveis pecados, mas essa pessoa aqui certamente cometeu um erro muito maior para comigo”.

‌Ora, se tivermos a audácia de falar isso, certamente estaremos incorrendo em arrogância e estamos afirmando que:

1 – para Deus é fácil perdoar: o que não tem respaldo bíblico: lembre-se que para nos perdoar Deus não apenas precisa desejar, ou mentalmente conceber essa ideia; para Deus nos perdoar ele teve que se entregar, se humilhar e aceita sofrer o nosso dano, a nossa punição. Deus se encarnou (humilhação – Deus tornou-se criatura) e sofreu o dano da morte no lugar dos eleitos (para dar a eles a vida eterna);

2 – que o pecado do nosso irmão contra nós é maior do que os pecados que um dia cometemos diante de Deus: Ora, precisamos entender que nossos pecados contra Deus são contra a sua santidade, o que é terrivelmente grave! Se achamos que as falhas que os irmãos cometem contra nós são mais graves, logo estamos nos colocando num patamar acima de Deus.

Só Deus conhece nosso interior e sabe a odiosidade dos nossos pecados, porque ele é O Santo!

7. Conclusão: Os planos de Deus sempre prevalecem; o perdão faz parte da história do povo de Deus

‌Após Jacó morrer, os irmãos tiveram medo de José persegui-los e mata-los. Em outras palavras, muito embora tenha ocorrido a reconciliação anos atrás, os irmãos ainda tinham medo de José usar todo o seu poder no Egito contra eles, especialmente quando o pai deles, Jacó, já tinha morrido.

‌No entanto, em mais um ato cheio de emoção, José reafirma o perdão e chora juntamente com seus irmãos.‌ José disse:

Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida.

Gênesis 50.20 – ARA

‌O evangelho de Jesus Cristo muda a nossa vida e muda nossas relações. José era um homem transformado pela graça de Deus, que não usou o poder que Deus havia lhe dado para fazer mal à sua família; antes, Deus colocou José nesta posição de destaque para ele ser um instrumentos de restauração na família: para socorrer no momento da adversidade (fome) e demonstrar misericórdia e perdão.

‌A história da família da aliança, a família de Israel, é a história de uma família que vivia amargurada, mas que pela graça de Deus foram restaurados. Eles tinham sido escolhidos por Deus para cumprirem a missão: ser o povo da aliança de Deus e, por intermédio de Judá, trazer ao mundo o Messias, o Salvador, Jesus Cristo.

‌A história da família de Deus, da Igreja, é exatamente igual. Vivemos situações difíceis e muitas vezes deixamos que em nossos corações cresça sentimentos carnais que sufocam o fruto do Espírito.

‌No entanto, a história do povo de Deus é uma história de perdão, de reconciliação. Somos muitos membros, mas somos um só Corpo em Cristo Jesus.

‌Se olharmos para dentro de nós assim como deseja o Espírito Santo, certamente encontraremos grandiosas falhas. Nossa vida é recheada de desafios e de erros. Se Deus levasse em conta os nossos pecados, talvez há muito tempo nossa vida já teria sido ceifada. Se ao pecarmos Deus simplesmente tirasse nossa vida, sem aguardar o tempo da manifestação do arrependimento, estaríamos terrivelmente condenados eternamente. Porém Deus é paciente.

Se Deus nos desse uma visão especial sobre quem nós verdadeiramente somos, sem a graça de Deus, talvez veríamos a figura de um monstro.

‌Mas como a história do povo de Deus é a história do evangelho que se desenrola ao longo do tempo, Deus nos traz boas notícias: mediante nossa união com Cristo, realizada no poder do Espírito Santo, somos convocados a fazer parte de uma nova história, a história do perdão, a vida perfeita de Jesus Cristo.

‌Deus nos deu uma nova identidade! Cristo não nos salvou para sermos melhores do que um dia fomos; Cristo nos salvou para nos dar uma nova identidade: a identidade de verdadeiros cristãos; por isso, somos Igreja, o Corpo de Cristo, o povo de Deus, membros uns dos outros!

‌Que Deus nos ajude a sermos como José, de acordo com a graça do evangelho de Jesus Cristo: homem transformado pela graça, um instrumento de restauração na vida de pessoas. Que sejamos pacificadores no meio do povo de Deus. Que possamos nos arrepender dos nossos erros. Que possamos perdoar. Desejo que o evangelho de Jesus Cristo transforme sua vida!

‌Amém!

compartilha este conteúdo com alguém

ouça este conteúdo

assistir conteúdo

Mais episódios

O pastor Hudson Carvalho prega o sermão baseado no Salmo 103. Neste salmo, o profeta nos traz um ensino maravilhoso: a necessidade que temos de trazer à memória os feitos...
Nesta pregação, o pastor Hudson Carvalho prega o sermão baseado no texto em Efésios 5.31-32. A Santíssima Trindade está envolvida numa eterna dinâmica de amor e prazer um no outro....

Procurar

Podcast

Para melhorar sua experiência, este site usa cookies.