Pelágio era um monge britânico que ficou muito conhecido pelo fato de ter se oposto aos ensinamentos bíblicos de Agostinho de Hipona a respeito da graça de Deus. Para Pelágio, a vida cristã consistia em um luta constante para sua salvação. Para ser salva de seus pecados, a pessoa deveria se empenhar por seus próprios esforços para obter a salvação. [1]Justo L. González, História do cristianismo: a era dos mártires até a era dos sonhos frustados, 213.
Pelágio se opôs aos ensinamentos do pastor Agostinho ao afirmar que o homem natural tem total liberdade e livre arbítrio para escolher pecar ou não pecar, isto porque entendia que o pecado não era um elemento que escravizava o homem tanto assim. Pelágio rechaçava a ideia do pecado original, ao afirmar que todos nascem em um estado de inocência, semelhante ao de Adão antes da queda. [2]Justo González, org. Juan Carlos Martinez, trad. Silvana Perrella Brito, Breve Dicionário de Teologia (São Paulo, SP: Hagnos, 2009), 247–248.
Nesta senda, o pensamento era que os pecadores possuem livre arbítrio necessário para aceitar a graça de Deus. Com efeito, o início da fé (initium fidei) residia na vontade do homem e não na graça de Deus. [3]Ibid.
Em fidelidade à Palavra de Deus, Agostinho dizia que, antes da queda do homem, Adão tinha liberdade para escolher pecar ou não pecar. Contudo, o pecado de Adão transmitiu a sentença de Deus para toda a humanidade, o que fez com que todos estivéssemos mortos em delitos e pecados, como afirma claramente o apóstolo Paulo (cf. Efésio 2.1-10).
Após a queda o homem tornou-se escravo do pecado. Dessa forma, a única escolha que o homem natural pode fazer é qual pecado deseja cometer. O homem no pecado não consegue conhecer a Deus, pois ele vive para o pecado.
Assim, Agostinho, em contraposição à heresia pelagiana, ensinava que a regeneração é obra do Espírito Santo. Apenas quando o próprio Deus toca no homem é que há novo nascimento. Esta obra é exclusiva de Deus! É graça! Assim, ao ser tocado por Deus, o homem é elevado a um estado novo, de regenerado, e, por conseguinte, possui a liberdade para pecar e para não pecar.
Ao final da história, quando o corpo mortal se revestir da incorruptibilidade[4]“Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de … Continue reading, o homem estará de uma vez por todas livre do pecado. Chama-se isso de glorificação do corpo, que é consolidação da salvação.
O pelagianismo foi rechaçado repetidamente, tanto pelos teólogos Agostinho e Jerônimo, mas também pelo concílio de Éfeso (Terceiro Concílio Ecumênico, ano 431 d. C.). Também a doutrina voltou a ser analisada no Sínodo de Orange em 529 d.C.
Contudo, isto não significa que tais pensamentos deixaram de existir. Aliás, Lutero acusava quase todos os escolásticos[5]O escolasticismo é um “método e tradição teológica que surgiu nas escolas medievais, particularmente nas universidades, a partir do século XII, mas alcançou seu ponto culminante nos séculos … Continue reading de seguirem a doutrina pelagiana.
Também, apesar de condenada como heresia, muitos seguidores procuravam minimizar o pensamento de Agostinho acerca da graça de Deus, tanto é que surgiu a doutrina semipelagiana.
Referências[+]
↑1 | Justo L. González, História do cristianismo: a era dos mártires até a era dos sonhos frustados, 213. |
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↑2 | Justo González, org. Juan Carlos Martinez, trad. Silvana Perrella Brito, Breve Dicionário de Teologia (São Paulo, SP: Hagnos, 2009), 247–248. |
↑3 | Ibid. |
↑4 | “Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Co 15.53-57) |
↑5 | O escolasticismo é um “método e tradição teológica que surgiu nas escolas medievais, particularmente nas universidades, a partir do século XII, mas alcançou seu ponto culminante nos séculos XIII e XIV. O próprio nome “escolasticismo” foi dado posteriormente por humanistas que pensavam que essa classe de teologia era pura teologia sem pertinência alguma, que devia ser relegado às escolas — da mesma forma que pensavam que todo período entre a antiguidade e eles não tinha importância, e por isso lhe deram o nome de “Idade Média”. O escolasticismo surgiu em um momento em que as cidades começavam a crescer, após um longo declive durante os primeiros séculos da Idade Média. Como resultado disso, as antigas escolas monásticas foram ocultadas pelas escolas catedráticas, e posteriormente pelas universidades que surgiram delas. Por isso, os dois principais precursores do escolasticismo, Pedro Abelardo (1079–1142) e Pedro Lombardo (–1160), ensinaram em relação à Catedral de Paris, enquanto que Tomás de Aquino (c. 1225–1274), que é considerado o ponto máximo do escolasticismo, ensinou na Universidade de Paris.” Justo González, org. Juan Carlos Martinez, trad. Silvana Perrella Brito, Breve Dicionário de Teologia, 112–113. |