Perícope
Ao mestre de canto, segundo a melodia “Corça da manhã”. Salmo de Davi 1 Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? 2 Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. 3 Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. 4 Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. 5 A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos. 6 Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. 7 Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: 8 Confiou no Senhor! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer. 9 Contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe. 10 A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus. 11 Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda. 12 Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. 13 Contra mim abrem a boca, como faz o leão que despedaça e ruge. 14 Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. 15 Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte. 16 Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. 17 Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim. 18 Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes. 19 Tu, porém, Senhor, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. 20 Livra a minha alma da espada, e, das presas do cão, a minha vida. 21 Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes. 22 A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação; 23 vós que temeis o Senhor, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel. 24 Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu, quando lhe gritou por socorro. 25 De ti vem o meu louvor na grande congregação; cumprirei os meus votos na presença dos que o temem. 26 Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o Senhor os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração. 27 Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações. 28 Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. 29 Todos os opulentos da terra hão de comer e adorar, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele, até aquele que não pode preservar a própria vida. 30 A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor à geração vindoura. 31 Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez.
Salmo 22 (ARA)
Introdução
Deus é santo e não pode pactuar com o pecado. Pode parecer para muitos que o pecado pode ser visto como uma “leve escorregada”, ou um “um errinho qualquer”. Afinal de contas, “errar é humano”. Este é o princípio da falibilidade humana. Para compreendermos isso, não há qualquer necessidade da revelação especial, da Bíblia, porque pela própria observação todos podem concluir: todos os serem humanos erram. Trata-se, assim, de uma constatação. No entanto, sobre o pecado em si, somente a Escritura nos revela de fato o que ele representa diante do Criador, que é Santo, Santo, Santo (ou seja, completamente apartado do pecado e do mal).
É bem verdade que há muitas passagens bíblicas do Antigo Testamento que Deus ameaça abandonar seu povo e isto ocorreu devido aos seus próprios pecados (Jz 10.13; 1Sm 8.8; 1Rs 11.33; 2Rs 22.17). Como sabemos, as Escrituras também revelam que o amor de Deus dura para sempre para com seu povo escolhido. Deus nunca deixou de exercer o juízo em desfavor dos ímpios e a disciplina para com seus filhos escolhidos. Assim, para com os filhos (o remanescente fiel), vemos na Escritura que Deus nunca os deixou, porque a sua misericórdia não existe apenas hoje, mas ela dura para todo o sempre!
De fato, Deus tinha todo o direito de abandonar seu povo por conta dos pecados, mas ao invés disso ele mesmo já tinha providenciado uma forma de consolidar este amor: enviando seu próprio Filho como homem para morrer na maldita cruz para afastar de uma vez por todas os pecados dos seus filhos.
O pecado nos traz sofrimento, seja porque estamos enfrentando as consequências dos nossos atos, seja porque Deus está nos disciplinando com amor.
Agora, importante você notar que não há pecado sendo relatado neste salmo. Não há indícios de que o sofrimento que o salmista estava sentindo esteja relacionado a alguma conduta pecaminosa. Pode parecer, então, que o sofrimento seja injusto.
O salmo 22 é conhecido como um salmo de lamento. Um lamento individual que envolve três queixas:
1 – queixa contra Deus (versos 1, 2, 15c);
2 – queixa contra o próprio salmista (versos 6-8) — ele está queixando-se de si mesmo;
3 – queixa contra seus inimigos (versos 7,8,12,13).
Mas este salmo não é apenas um lamento!
Este é um salmo consiste tanto em salmo de lamento como salmo de louvor. Isso representa dois polos da nossa vida: os sofrimentos que vivemos nesta terra e a glória que Deus reservou para nós. Este salmo faz este contraste.
…nas igrejas ao norte da África, nos dias de Agostinho (ca. de 354–430), este salmo era entoado na celebração pascal da Ceia do Senhor.
Allan Harman, Salmos, trad. Valter Graciano Martins, 1a edição, Comentários do Antigo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 129.
Como lemos, este Salmo inicia de forma extremamente dramática! Em todo o Antigo Testamento não existe registro de uma pergunta mais aflitiva que essa: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”
O possível abandono de Deus representa o ponto mais baixo do desespero humano.
Por que não há resposta de Deus?
O desespero de Davi
Davi retrata seu desespero pelo suposto abandono de Deus:
1 – Davi acha que suas palavras não estão sendo ouvidas por Deus (v. 1-2): “Tu não me respondes” (v. 2);
2 – Davi se sente inferior e humilhado pelas pessoas: “sou um verme e não homem…todos zombam de mim, afrouxam os lábios e meneiam a cabeça” (v. 6-7);
3 – Davi pede para o Senhor não se distanciar dele, porque ele não tem ninguém para socorre-lo (v. 11c): “não há quem me acuda”;
4 – Davi se sentiu cercado, assim como feras cercam a presa: “muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam” (v. 12);
5 – Davi fala que está muito fraco, sem vigor “meu coração se derreteu como cera” (v. 14);
6 – Davi dá ênfase e diz que perdeu completamente as forças: “secou-se meu vigor como um caco de barro” (v. 15);
7 – Davi sente que a morte está chegando de tão aflito que estava: “assim, me deitas no pó da morte” (v. 15);
No entanto, como lemos, este salmo não finaliza apenas com o lamento. Ele finaliza com louvor a Deus, na esperança de que nosso sofrimento é apenas por um momento.
Deus deseja plantar em nossos corações esperança em meio aos nossos sofrimentos.
E isto não se aplica apenas: (1) a pessoas que estão chorando pela perda de um familiar seu, ou (2) chorando porque seus filhos parecem que não desejam mais saber das coisas de Deus, ou (3) chorando por estar sofrendo uma doença grave, ou ainda chorando por estar doente e sentir dores que não passam.… isso também se aplica para sofrimentos internos que vivemos, seja (1) porque lutamos contra nossos próprios pecados, ou (2) porque estamos enfrentando uma batalha nas nossas mentes (seja por depressão ou outras doenças psíquicas).
Há diversas pessoas aqui. Umas estão sofrendo mais do que outras. Mas, na verdade, de certo modo, todos nós temos nossos sofrimentos. Muitos deles, as pessoas não podem ver, mas o Senhor vê.
Nossos sofrimentos são grandes, mas precisamos olhar para história de cristãos no passado. Ao lermos histórias inspiradoras, podemos enxergar que nosso sofrimento às vezes nem se compara com o sofrimento do nosso irmão.
Cuidado com a murmuração – tudo está ruim.
Eu procuro sempre ler biografias de homens e mulheres de Deus do passado. Isso me ajuda muito a me inspirar e ver que há beleza em meio às situações difíceis, pela fé em nosso Redentor Jesus.
John Piper escreveu um livro chamado “O Sorriso Escondido de Deus“, que reflete sobre a soberania de Deus e a graça de Deus em meio ao sofrimento humano. Por meio de três histórias inspiradoras de cristãos, Piper argumenta que é possível enfrentar a dor e a aflição com fé e isso glorifica a Deus.
John Bunyan: Autor do clássico “O Peregrino”, passou doze anos na prisão por se recusar a deixar de pregar o evangelho. Piper explora como a persistência e a confiança inabalável de Bunyan em Deus durante seu confinamento se tornaram um testemunho poderoso de fé e resultaram em uma das obras mais importantes da literatura cristã.
- Um humilde latoeiro (pessoa que conserta objetos de lata) e pregador do evangelho de Jesus escreveu o segundo livro mais lido depois da Bíblia: O Peregrino.
William Cowper: Um aclamado poeta do século XVIII, que lutou durante toda a sua vida com uma severa depressão e desespero, chegando a tentar o suicídio. Através de sua história, Piper demonstra como a graça de Deus se manifestou em meio à sua angústia mental, capacitando-o a compor hinos e poesias que até hoje confortam e encorajam outros que sofrem.
David Brainerd: Um jovem missionário aos povos nativos americanos no século XVIII, cuja vida foi abreviada pela tuberculose. Sua jornada foi marcada por imensa solidão, doenças e dificuldades. Piper destaca a busca incansável de Brainerd pela santidade e sua resignação à vontade de Deus, mesmo em face de um sofrimento atroz, o que inspirou gerações de missionários.
Nossos sofrimentos devem ser vistos como uma arena onde a força e a fidelidade de Deus serão magnificados. Nesta arena de guerra, vemos como somos fracos, mas também vemos como Deus é forte e fiel, seu sorriso em meio às nossas trevas trazem paz à alma.
O desespero de Cristo
“Não me respondes” (v. 1-2)
Nem sempre é fácil identificar as circunstâncias históricas do povo de Israel em que determinado salmo foi escrito. Um exemplo de um salmo que conseguimos identificar é o salmo 142, quando Davi escreveu: “Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao Senhor”. A referência histórica guarda relação com a oração que Davi fez quando estava na caverna.
No entanto, há muitos indícios dos estudiosos de que este salmo foi composto por Davi quando ele tinha perdido tragicamente seu filho Absalão. Seu coração estava despedaçado; ele eleva sua voz a Deus no meio do seu sofrimento porque estava se sentindo sozinho.
Você deve ter notado que essas frases “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” foram ditas por alguém muito importante. Este clamor foi feito pelo grande amor de nossas vidas, Jesus Cristo, nosso Senhor. Nesta ocasião Jesus pronunciou em aramaico (Eli, eli, lama sabactani) o equivalente a essas palavras em hebraico registradas aqui neste salmo.
Aqui, neste salmo, está provavelmente registrado um lamento de um pai que perde seu filho. No Novo Testamento consta o registro dessas palavras ditas não pelo Pai, mas pelo Filho. As palavras foram ditas pelo Filho que se sentiu abandonado na cruz, porque ele se fez pecado por nós, estava sobre ele toda a nossa maldição.
Assim, amados, estas palavras tomaram forma pelos lábios do pai, Davi. Na morte de Cristo, essas palavras ganharam vida nos lábios do Filho de Deus desamparado.
O clamor de Davi teve resposta, o de Cristo não!
O clamor de Cristo não teve resposta para que tanto Davi quanto nós pudéssemos ser socorridos em nossos sofrimentos.
“Todos zombam de mim, afrouxam os lábios e meneiam a cabeça” (v. 6-7)
Davi diz no verso 6 e 7 que “todos zombam de mim, afrouxam os lábios e meneiam a cabeça”.
Na verdade, foi exatamente isso que aconteceu com Cristo, conforme registrado nos evangelhos sinótipos – Mateus, Marcos e Lucas (Mt 27:39, Mc 15:29 e Lc 23:35):
Os que iam passando, blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e, em três dias, o reedificas!
Marcos 15.29
Por mais que dissemos que não haja pecado sendo confessado neste salmo, sabemos que Davi, como qualquer pessoa, era pecador. Talvez, tanto Davi quanto nós mesmos merecíamos ser ofendidos e rejeitados por conta de nossos pecados.
Entretanto, Cristo não merecia isso. As pessoas blasfemaram dele e menearam a cabeça (girar a cabeça para os lados como sinal de reprovação ou rejeição).
Cristo participou não apenas da nossa humanidade, como também do nosso sofrimento. Nós mereceríamos padecer, mas Ele não.
O que Deus quer falar conosco
O que Deus quer falar conosco nesta noite é que, em meio às nossas sombras e sentimentos de possível desamparo, Deus sorri para nós e enche nosso coração de fé para entender que nosso breve sofrimento é apenas por um pouco de tempo. Jesus teve que ser desamparado pelo Pai, para que hoje, eu e você, pudéssemos ser abraçados por esta preciosa graça.
Deus preparou para aqueles que o amam a maior de todas as alegrias: Ele Próprio!
Não seremos felizes na Nova Criação porque tudo será perfeitamente belo;
Não seremos felizes na Nova Criação porque encontraremos com irmãos do passado, personagens bíblicos que tanto amamos e nos inspiraram; ou porque encontraremos nossos queridos familiares que já partiram e estão com o Senhor;
Não seremos felizes na Nova Criação porque haverá “rios como de cristal” e “ruas de ouro”.
Nosso sofrimento só será estancado porque Deus estará conosco. É sobre a presença de Deus, cuja glória refletirá para todo o sempre. Na Nova Criação não haverá mais o sol para iluminar, mas a glória de Deus se manifestará e iluminará tudo.
Seremos felizes porque Aquele que é o dono da nossa felicidade estará conosco!
Jesus disse: “Pai, eu quero que aonde eu esteja que meus irmãos estejam comigo” (Jo 17.24).
Seremos felizes porque Deus nos faz feliz! Não se trata daquilo que Deus pode nos oferecer, como bênçãos e outras coisas. Não se trata da beleza da Nova Criação, mas se trata da própria pessoa do Senhor: Ele enxugará dos nossos olhos toda a lágrima! (Ap 21.4) — É Ele quem estancará nosso sofrimento.
Jesus é a maior de todas as belezas. É Nele que seremos plenamente satisfeitos e felizes para sempre, livres do nosso sofrimento.
Davi fez a pergunta “Deus meu, Deus meu, por que me desemparaste?” porque se sentiu abandonado por Deus no meio do seu sofrimento. Mas a verdade revelada na Escritura é que Deus nunca abandonou seu servo Davi.
Quantas vezes eu e você já passamos por grandes desafios e achamos que o Senhor nos abandonou, ou que Ele simplesmente não se importa mais conosco…
A verdade é que, para que Davi fosse amparado, Deus abandonou seu Filho.
Por mais que Davi se sentisse sozinho em seu sofrimento, na verdade, Deus estava ao lado dele para o consolar. Jesus, no entanto, precisou ficar abandonado no madeiro para que Deus estivesse ao lado do seu servo Davi.
Meus irmãos, as nossas sombras procuram ofuscar o brilho da presença de Deus nas nossas vidas e talvez um pensamento pode chegar em nossa mente: “será que o Senhor se esqueceu de mim? Será que ele se cansou de mim? Será que ele ainda ouve a minha oração?”
Podemos ter a plena certeza: assim como todas as manhãs o sol se mostra e ilumina nosso dia, assim também é a constância da fidelidade de Deus. Na verdade, ainda que o sol não nasça amanhã, o Senhor ainda assim permanece fiel, inabalavelmente!
O amparo dos Filhos de Deus: louvor no meio do povo de Deus
Observe no verso 22, que o salmista muda o seu cântico: de lamento para um louvor.
Ele diz:
A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação;
Salmo 22.22
O autor aos Hebreus, aplica claramente isto à questão da necessidade do sofrimento de Cristo. Ele diz:
Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles. Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação.
Hebreus 2.10-12
Ao comentar esta passagem bíblica, Simon Kistemaker diz que Deus fez Jesus:
… passar por horrível sofrimento para produzir à perfeição. Foi da vontade de Deus que seu Filho sofresse, a fim de poder efetuar a salvação de muitos filhos. E quando o Filho completou seu sofrimento, ele tornou-se o iniciador da salvação deles. Ele recebeu ordem para conduzir os eleitos de uma vida de escravidão no pecado para uma vida de felicidade eterna, na qual eles são considerados filhos e herdeiros com Cristo.
Simon Kistemaker, Hebreus, org. Cláudio Antônio Batista Marra, trad. Marcelo Tolentino e Paulo Arantes, 2a edição, Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2013), 101.
Cristo Jesus, por meio do seu sofrimento, produziu a perfeição que nós nunca conseguiríamos produzir. Ele aperfeiçoou os santos para todo o sempre por meio do seu ministério (Hb 10.14). Todo o sofrimento que Ele sofreu, foi para que nós, seus filhos (os eleitos), fôssemos salvos.
Enquanto o Filho de Deus sofreu toda a dor e desprezo e foi rejeitado, nós fomos resgatados, amados e acolhidos como filhos. E uma vez resgatados por Deus, não somos escravos Dele; mas somos FILHOS!
Quem escraviza é o diabo. Deus nos adotou como filhos, fez de Jesus Cristo o nosso irmão mais velho, e nos deu uma herança eterna.
E Jesus não se envergonha de nos chamar de irmãos. O Pai também não se envergonha de nos chamar de filhos.
Vejam, irmãos, que o autor aos Hebreus conecta o salmo 22 que lemos. Após falar o meio pelo qual os filhos de Deus podem ser resgatados (por meio do sofrimento de Cristo), ele aplica esta profecia contida no Salmo 22:
A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação.
Hebreus 2.12
E o que isso implica para nós?
Faremos como a Palavra de Deus determina: cantaremos louvores ao nome do Senhor para todo o sempre!
O salmista, assim, prossegue:
vós que temeis o Senhor, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel.
Salmo 22.23
No verso 24, o salmista esclarece que, por mais que ele tenha se sentido sozinho em seu sofrimento, clamando: “Deus meu, por que me abandonaste?”, ele esclarece que, na verdade, ele nunca esteve sozinho:
Pois não desprezou, nem abominou a dor do aflito, nem ocultou dele o rosto, mas o ouviu, quando lhe gritou por socorro.
Salmo 22.24
Vejam, ele diz: “O Senhor não me desprezou, ele não me rejeitou, ele se importou com a minha dor, Ele estava ao meu lado o tempo todo! Ele me ouviu! Ele me ouviu!”
Mas o Cristo crucificado, o Santo, estava pendurado no madeiro clamando: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”.
E o que se ouviu? NADA! Houve silêncio!
Sabe, irmãos, às vezes minimizamos o amor de Deus… achamos que é apenas uma força de pensamento, ou um sentimento interior.
Mas não é isso que as Escrituras revelam!
O amor de Deus é tão forte que transborda. Ele não se contém. Ele se entrega por inteiro.
A grande verdade é que o desamparo do Filho na cruz se tornou para nós um acolhimento eterno e todo-precioso!
Parece que o salmista depois cai em si. Ele se sentiu desamparado; mas na verdade ele confessa que nunca esteve de fato desamparado. Tudo não passou de “sombras”; mas o sol da justiça raiou em sua vida para lhe trazer refúgio e refrigério.
O nosso sofrimento terá um fim
Os sofredores hão de comer e fartar-se; louvarão o Senhor os que o buscam. Viva para sempre o vosso coração.
Salmo 22.26
A Palavra de Deus nos traz uma promessa preciosa. Nosso sofrimento terá um fim, porque os filhos de Deus foram predestinados para a glória eterna! (Ef 1.3-14).
Vejam como isto está conectado com a consolidação do Reino de Deus:
Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações.
Salmo 22.27-28
Nosso Salvador Jesus já disse que o Reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda (Mateus 13.31). Sendo ela uma pequenina semente, ela se torna uma grandiosa árvore de modo que “as aves do céus” procuram se aninhar nela.
O Reino de Deus cresce e alcança várias pessoas, de vários povos, línguas, nações. Deus, por meio de Cristo Jesus, resgata pessoas de vários cantos do mundo.
Um dia, Jesus se manifestará em glória. Ele virá com seus anjos, que recolheram os eleitos de todos os cantos da Terra (Mt 24.31; Mc 13.27). Todo o joelho se dobrará e toda a língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor! (Fp 2.10-11; Rm 14.8 – ref Is 45.23).
Sei que você deseja muito que seus sofrimentos tenham um fim logo; eu também desejo sinceramente. Mas precisamos compreender que, nesta vida, Deus é glorificado em nós quando vivemos a providência de Deus… quando em meio às nossas dificuldades e tribulações Ele se lembra de nós e ouve nossa oração, e nos dá forças para prosseguir!
Nossos sofrimentos não irão cessar nesta vida aqui. O salmista é claro. É somente quando Cristo Jesus se manifestar, consolidando seu reino eterno, é que experimentaremos o nosso “Felizes para Sempre”.
o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas.
Filipenses 3.21
Nosso sofrimento somente cessará quando, enfim, no dia do Senhor (na manifestação de Cristo – Segunda Vinda) o nosso corpo humilhado for transformado em um corpo glorificado (v. 1Co 15.53-54). Isto é, em um corpo incorruptível, semelhante ao do Senhor Jesus.
Conclusão
O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, perseguido covardemente pelos nazistas, escreveu sobre sobre este salmo. Ele foi preso e por fim enforcado como traidor do regime autoritário. Bonhoeffer ele escreveu sobre a interação entre nosso sofrimento e o sofrimento de Cristo:
Mas Jesus Cristo não apenas é o objetivo de nossa oração; ele próprio também nos acompanha em nossa oração […] Por amor de nós, ele clamou na cruz: ‘Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?’. Agora, sabemos que não há mais nenhum sofrimento na terra em que Cristo não esteja conosco, sofrendo e orando conosco, Cristo, o único ajudador.
(Orando com os Salmos)
Meus irmãos, Deus se importa conosco!
Não podemos permitir que um pensamento errado invada nossas mentes. Deus nunca (jamais!) irá nos abandonar, porque já fomos amados desde a eternidade, formos acolhidos pela obra de Cristo na cruz.
O autor aos Hebreus afirma que nós temos um sumo sacerdote que vive para todo o sempre para interceder por nós (Hb 7.25). Ele sabe o que é se sentir aflito e sozinho. Cristo Jesus participou da nossa humanidade para que Ele pudesse nos socorrer sempre que precisarmos. Ele sabe exatamente as tentações que passamos; ele conhece exatamente o nosso sofrimento.
A Palavra de Deus afirma:
Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.
Hebreus 4.15
Então, meu irmão, não pense em desistir! Não pense em parar! Deus não desistiu de você; Deus não desistiu de mim! E Ele não desistiu de nós porque somos bons ou aceitáveis, mas porque seu amor por nós dura para sempre!
Cristo clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” Nenhuma resposta houve do céu. Mas hoje podemos clamar em nossos sofrimentos e termos a plena certeza: Ele está conosco!
Cristo foi abandonado na cruz para que eu você, assim como Davi, fôssemos amados e acolhidos como filhos!
Amém!